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quarta-feira, agosto 02, 2006

“Ademais, o que significavam todos esses, todos os suplícios do passado? Tudo, até o crime dele , até a condenação e o exílio, agora, no primeiro impulso, pareciam-lhe algum fato externo estranho, até como se não tivesse acontecido com ele. Aliás, nessa noite ele não conseguia pensar de forma demorada e constante em nada; demais, agora ele não resolveria nada de modo consciente, apenas sentia. A dialética dera lugar à vida, e na consciência devia elaborar-se algo inteiramente diferente.”
Um tijolo caiu na minha cabeça. Um tijolo chamado Crime e Castigo. Nesse momento eu queria sentar numa taberna e tomar um chá com Dostoiévski, porque eu teria muitas coisas a perguntar...
“E a confusão, Clarice?”
Já faz muito tempo ela está aí.... Não consigo transformar minhas ações em palavras, reunir meus pensamentos num papel ou mesmo em fala. É sabido que eu não sou muito de falar da vida... mas isso sempre foi assim, nunca foi um problema; afinal, não falar da vida não significa deixar de vive-la, ou de compreende-la. Mas ultimamente tudo me parece indiferente. Parece.
Pior é saber que não é, saber que estou passando por uma intrincada teia de arames farpados e me arranhando aos poucos, sem notar e sem dar muita importância ao fato. Será que vou sangrar até o final?
Estava rumando para me transformar numa espectadora da minha própria vida. E eis que surge ele. Raskólnikov.
Raskólnikov era um jovem muito confuso, que se perdeu nas próprias teorias e abstrações, culminando num crime um tanto quanto impulsivo e mal planejado. Isso só piorou o estado débil em que se encontrava, e ele ficou ainda mais imerso em seus delírios e pensamentos desconexos. Seu discurso foi perdendo a coerência, ele começava a se trair, vagava pela cidade falando sozinho, espalhando aos ventos suas conjecturas mais profundas.
Já não é a primeira vez que o tio Dasta me mostra alguns defeitos que podem ser fatais, sempre desse modo dramático e impactante característico, mas que surte resultado imediato. Pois é. Foi instantânea a conclusão que eu tirei quando fechei o livro pela última vez. Preciso escrever. Onde está a catedral?
Então, caros visitantes, escondida ou não, essa catedral há de ressurgir. Precisei de algum tempo afastada para entender o verdadeiro significado dela, mas valeu a pena. Voltei com a fé renovada.
Por último, peço desculpas pelo post confuso... embora segundo as minhas memórias meus posts sempre tenham sido confusos, a falta do exercício da escrita fez com que esse esteja ainda um pouco mais do que o normal. E mais um pedido de perdão aos que não compreenderam minha lógica ilógica, mas eu não me sinto em condições de explica-la, e não sinto que teriam vontade de compreende-la de qualquer modo.
Esta que vos escreve se despede, e anuncia que pretende manter as portas da catedral abertas por tanto tempo quanto for possível, e agradece a compreensão.
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Enviado por Clarice às 21:37 horas.
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